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Resolvi escrever sobre duas questões relevantes e recorrentes em consultório, ou até em rodas de conversa com amigos e família. Ambas têm relação com a escola e a crescente preocupação de pais em escolher a escola certa para seus filhos. Afinal, qual é a melhor escola? O que devemos procurar nessa escola? Espaço? Preço? Precisa ser uma escola bilíngue? Precisa ser próxima ao nosso trabalho e/ou casa? Ora, a preocupação gira em torno da escolha da escola, e em um segundo momento em que já existe a escola na vida da criança, acontecem os questionamentos com relação à adequação e inadequação da escola escolhida para essa mesma criança.

Vamos lá! Se você, como eu, já tem filhos, já passou por um desses momentos pelo menos uma vez na vida. Se não tem, aqui cabem algumas dicas e informações bastante relevantes.
Após o nascimento do bebê, muitas mudanças e tantas preocupações novas transformam o casal em pais amorosos e preocupados. Os meses passam e chega a hora da primeira festinha de aniversário. Após esse momento marcante, os pais começam a busca pela primeira escola. E surgem dúvidas importantes, muitas delas: quantas crianças têm na sala? Quantas professoras para atender o meu filho? Meu filho vai chorar? Será que é bem limpo? Quem vai ficar com ele se eu me atrasar? E o lanche? A professora é “boazinha”? A escola foi bem classificada no Enem?E por aí vai.

Na maioria das vezes, o que percebo é que, por falta de informação, os pais esquecem de se preocupar com algumas questões igualmente importantes às últimas citadas, como por exemplo: os professores trabalham na escola há quantos anos? Como são apresentados os conteúdos? Existem momentos de atividades que incentivem a criatividade? Como é o período de adaptação? O que os pais que têm filhos nessa escola acham da mesma? Quem são os professores? Como são as comemorações? E as reuniões de pais? Entre outros…

Trocando em miúdos, se a maioria dos professores trabalha há bastante tempo na escola, certamente os mesmos possuem um vínculo afetivo com relação àquele espaço físico, às crianças, aos demais funcionários e, além disso, acreditam na pedagogia oferecida naquela instituição, sentindo-se confiantes e parceiros da escola. Isso é, certamente, muito positivo. Caso contrário, ligue o alerta! Pois, se o professor não se sente bem na escola, quer seja por um motivo ou por outro, será que seu filho se sentirá bem ali? Será que existem parâmetros para a construção de vínculos em uma escola que não consegue vincular seus profissionais mais relevantes no ato de ensinar? Essa questão deve ser bem analisada e observada.

Da mesma forma, cada item elencado pelos pais deve ser esmiuçado e analisado com muita cautela. Os pais devem eleger alguns critérios iniciais e depois escolher duas ou três escolas que se encaixem para visitar e pôr em prática sua análise criteriosa. Depois de terem visitado todas as escolas escolhidas, os dois devem se sentar e decidir por uma escola. Os pais podem marcar uma nova visita e, dessa vez, levar seu filho para conhecer a escola escolhida para ele estudar. Não se deve levar a criança nas visitas iniciais, para que as reações da mesma não sejam uma influência na decisão final. Após a escolha da escola, a criança poderá visitar a instituição a fim de estabelecer um vínculo inicial.

Muito bem, agora seu filho está devidamente matriculado em uma instituição escolar. Que bom que os problemas acabaram. Acabaram? Passado o período de adaptação, sobre o qual falaremos em outra oportunidade, a criança começa a estabelecer os vínculos afetivos, ambientais, sociais e se relaciona com esse novo ambiente, adquirindo muitas experiências novas e aprendendo sobre letras, livros, artes, jogos e brincadeiras. Essa abertura de oportunidades que a escola oferece é um marco para as crianças e, por isso, os pais devem estar totalmente confiantes em sua escolha.

Sobre a escolha da escola, vale reforçar que, se você escolheu criteriosamente e cautelosamente a escola em que matriculou seu filho, deverá se sentir totalmente seguro e confiante com relação aos objetivos que deverão ser atingidos na educação pedagógica e sociabilidade. É extremamente importante que seu filho sinta, ouça e viva a confiança que você tem na escola. Com isso, a adaptação será mais fácil e as questões corriqueiras, como febres, quedas e divergências entre os alunos, serão solucionadas com mais suavidade e clareza entre pais e professores, formando o precioso vínculo família x professor x escola.

Certo! Tudo vai bem. Seu filho vai todos os dias para a escola feliz da vida e volta com aquele sorriso que você tanto ama. Até que um dia seu filho diz que não quer ir para a escola, ou seu filho sai chorando da escola, ou seu filho não aprende todos os números ou letras. Enfim, sempre chega esse dia, e é nesse momento que vamos nos apoiar e relembrar daquela escolha criteriosa da escola de nossos filhos.

Nesse momento, os pais tendem a questionar a posição da escola. Será que é assim mesmo que a escola deve proceder? Meu filho não aprende, será que o professor é bom? E muitas vezes, após questionar e encontrar tantas falhas na escola que “criteriosamente” escolheram, os pais pensam em trocar de escola.

O que significa trocar de escola? Para os pais, muitas vezes, pode ser até um alívio, mas para as crianças, a troca pode ser desastrosa. A criança que já passou pelo período de adaptação, que já está acostumada àquele convívio social e tem vínculos estabelecidos com adultos e crianças, tem muito a perder. Primeiramente, se for alguma questão social (conflitos entre crianças), é necessário que se compreenda a magnitude do ocorrido, ponderando e orientando as crianças e não transferindo o problema para a próxima escola.

Se for uma questão de aprendizagem, os pais poderão solicitar uma análise psicopedagógica para ter certeza em relação ao motivo da falha na aprendizagem ou ainda conversar com a professora e compreender a questão pedagógica. Afinal, o desenvolvimento infantil segue parâmetros esperados para cada faixa etária, e é essencial observar se a criança está alcançando os marcos do desenvolvimento cognitivo, social e emocional de forma adequada. Embora cada criança tenha sua individualidade, é fundamental não normalizar atrasos que podem indicar dificuldades ou transtornos do neurodesenvolvimento, devendo ser investigados com seriedade e responsabilidade (American Academy of Pediatrics, 2020; Bossa, 2011).

Melhor que trocar é prestar atenção aos sinais. Assim, se o seu filho não está aprendendo como deveria, vá até a escola e questione, investigue. Esse é o seu papel.

Espero que esse artigo tenha sanado algumas dúvidas dos pais dedicados e amorosos que buscam sempre o melhor para seus pequenos.

Referências

Bronfenbrenner, U. (1996). Ecologia do Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artes Médicas.

Piaget, J. (1975). A Equilibração das Estruturas Cognitivas: Problema Central do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar.

American Academy of Pediatrics (2020). Developmental Surveillance and Screening. In Bright Futures Guidelines for Health Supervision of Infants, Children, and Adolescents.

Bossa, N. A. (2011). Psicopedagogia: o aprender e o ensinar. Porto Alegre: Artmed.

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