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As Crianças, a Autoestima e a Escola
Autoria: Simone Franco Cintra de Almeida – Psicopedagoga
In Memoriam: Oswaldo Silos Cintra

💛 “Ao meu querido avô, Oswaldo Silos Cintra, que me ensinou que cada conquista se constrói aos poucos, com paciência e dedicação, assim como a galinha cheia o papo de grão em grão.”

“De grão em grão, a galinha cheia o papo.”

Na minha infância, as crianças tinham direito a quatro coisas: comer, vestir, brincar e ir à escola. Não importava para os pais se gostávamos da escola, da comida ou das roupas – gostar era um luxo para poucos.

Mas e a autoestima? Alguém se preocupava com isso naquela época? E hoje? Você já refletiu sobre como anda a autoestima do seu filho? Afinal, o que é autoestima?

A Autoestima e a Autopercepção da Criança

A autoestima não está diretamente ligada à felicidade ou alegria, mas à forma como nós nos percebemos e avaliamos nossas capacidades. Desde a infância, essa construção ocorre nas interações com pais, avós, tios, amigos e, posteriormente, na escola, onde é constantemente testada e ressignificada.

Não se trata apenas da aparência, mas também da confiança em aprender e enfrentar desafios. Uma criança com autoestima fragilizada pode apresentar dificuldades escolares, não por falta de capacidade, mas por não acreditar em si mesma. Muitas vezes, essa insegurança é confundida com preguiça, falta de interesse ou indisciplina. Por isso, é essencial observar os sinais e, se necessário, procurar um especialista para uma avaliação adequada.

Construindo uma Autoestima Positiva

A autoestima se fortalece nas relações ao longo da vida, e os adultos têm um papel fundamental nesse processo. O reconhecimento e a valorização das conquistas da criança são importantes, mas devem ser equilibrados. Elogios exagerados podem criar uma falsa percepção de competência, enquanto a ausência de reconhecimento pode minar a confiança.

O essencial é proporcionar um ambiente seguro, onde a criança se sinta livre para errar, aprender e melhorar. A forma como ela se vê está diretamente ligada ao que ouve e percebe no meio em que vive. Dessa forma, sua autorregulação – a capacidade de avaliar e ajustar suas emoções e ações – se desenvolve a partir das interações familiares e escolares.

Autoestima e o Ambiente Escolar

Na escola, a autoestima continua a se moldar e pode sofrer impactos significativos. A bagagem emocional que a criança leva de casa influencia suas interações sociais e seu desempenho acadêmico.

Uma criança criada em um ambiente acolhedor tende a enfrentar desafios escolares com mais confiança. Por outro lado, se não se sente valorizada ou ouvida, pode desenvolver insegurança, afetando sua adaptação e aprendizado.

A Relação Entre Autoestima e Aprendizagem

Crianças que têm laços afetivos sólidos e um ambiente estruturado aprendem com mais facilidade. No entanto, nem todas as dificuldades acadêmicas são apenas emocionais. Fatores orgânicos, dificuldades pontuais de aprendizagem, neurodesenvolvimento atípico, traumas, separações ou falecimentos também podem afetar o desempenho escolar e a autoestima.

Por isso, dificuldades persistentes devem ser investigadas por um olhar multidisciplinar. Psicopedagogos podem orientar as famílias e, se necessário, encaminhar para outros profissionais, como fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras e oftalmologistas. Toda dificuldade escolar é um sintoma de que algo não vai bem.

Cada criança é única e desenvolve sua autoestima a partir das experiências que vivencia. Como pais e educadores, devemos estar atentos às necessidades emocionais dos pequenos, oferecendo suporte para que cresçam confiantes e preparados para os desafios da vida.

Permitir que uma criança construa uma autoestima positiva não significa poupá-la de dificuldades, mas sim oferecer um ambiente no qual ela possa experimentar, errar, acertar e se fortalecer. Afinal, como diz o ditado, “de grão em grão, a galinha cheia o papo” – e cada experiência contribui para o desenvolvimento de uma criança mais segura e feliz.


Referências

  • BRANDEN, N. Os Seis Pilares da Autoestima. São Paulo: Saraiva, 1999.
  • DAMÁSIO, A. O Mistério da Consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
  • PIAGET, J. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

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