Autoria: Simone Franco Cintra de Almeida – Psicopedagoga
In Memoriam: Oswaldo Silos Cintra
“Tropeça e cai, levanta e sai.”
A autonomia pessoal é uma característica fundamental para o desenvolvimento do ser humano. É uma autonomia que nos permite executar tarefas como: amarrar os sapatos, pegar um copo de água, guardar os brinquedos, resolver conflitos entre os amigos, abrir uma bala, descascar uma banana, desenhar, alimentar-se, ou seja, tarefas simples que fazem todos os dias. Algumas crianças são estimuladas a desenvolver suas habilidades para executar essas atividades de forma privada dentro de sua maturidade, mas outras são poupadas das tarefas, por serem consideradas muito ¨pequenas¨ para tanta responsabilidade. Dentro dessa linha de pensamento ressalto que, temos na autonomia pessoal, base para o desenvolvimento intelectual.
Compreendemos que a consolidação da autonomia traz para o ser humano, para a criança, o mecanismo gerador de responsabilidade, ou seja, ao me tornar independente em determinada atividade alcanço também a liberdade/responsabilidade. Como? Se uma criança sabe que consegue ir ao banheiro sem ajuda, terá liberdade para fazê-lo no momento mais adequado e poderá aplicar o mesmo mecanismo em outras atividades de sua vida. Assim, uma criança que é mais estimulada a executar as tarefas corriqueiras sem auxílio, será mais ágil e resolverá os problemas diários de maneira natural. Afinal, como podemos ajudar as crianças a desenvolver a autonomia? E como a autonomia pode exercer um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças? E ainda, quando uma criança pode ser considerada madura o suficiente para realizar determinadas atividades sem auxílio ou supervisão de um adulto?
O desenvolvimento cognitivo é o ato de aprender. Essa atividade é desenvolvida nas escolas, nas famílias, nas relações interpessoais diariamente por todos nós. O ser humano aprende todos os dias e durante toda a vida, mas é na fase inicial de sua vida que adquire as ferramentas necessárias para que suas habilidades e competências se potencializem.
Para auxiliar as crianças na aquisição dessas habilidades e competências, vamos incentivar a aquisição da autonomia nas crianças, assim o adulto deverá demonstrar a confiança que tem nela, deve ensinar como fazer as coisas e, após observar e orientar por algumas vezes em determinada tarefa, deve permitir que uma criança realize essa tarefa sem ajuda e, aos poucos, sem supervisão. Não devemos fazer tudo pelas crianças, nem subestimar suas capacidades, assim, quando o adulto faz tudo por elas, não permite que se desenvolvam extensamente e comprometam seu cognitivo.
Uma criança que tem sua autonomia bem desenvolvida aprimora seu processo de aquisição de aprendizagem, pois aprende que é através de sua ação que irá conquistar o que deseja. Assim, se ela deseja água, deverá pedir inicialmente e posteriormente poderá, dentro de cada etapa, ser instruída a se servir de água. Esse exemplo se repete nas inúmeras tarefas e atividades rotineiras das famílias e posteriormente das escolas. Ao permitir que o filho venha sozinho, os pais estão permitindo seu crescimento, estão potencializando o referencial de conquista e estimulando a busca pelo saber.
Podemos dizer então que a autonomia gera aprendizagem? Sim, pois sabemos que o aluno deverá desejar a aprendizagem, assim como desejou a água, e então se ele aprender a conquistar o que quer livremente, certamente terá mais chances de conquistar a aprendizagem sozinho, sem esperar que faça isso por ele.
Ressalto ainda a preocupação com a liberdade de aprendizagem criativa e despretensiosa, pois ao permitirmos que a criança interaja livremente com ambientes e pessoas, estamos permitindo que ela exerça sua habilidade e construa diferentes competências, como pular corda ou correr. E por que não cair? Cair faz parte e ensina que podemos nos levantar.
Referências
- PIAGET, J. O Nascimento da Inteligência na Criança . Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
- VYGOTSKY, LS A Formação Social da Mente . São Paulo: Martins Fontes, 1998.
- WALLON, H. Psicologia e Educação da Infância . Lisboa: Estampa, 1975.
- TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional . Petrópolis: Vozes, 2014.